Câmara Municipal pode ter comissão especial voltada à memória negra e da classe trabalhadora

por juliana.fernandes — publicado 05/12/2023 10h49, última modificação 05/12/2023 10h49



Presidente da Comissão de Trabalho e Defesa dos Servidores Públicos da Câmara Municipal, a vereadora Júlia Casamasso vai propor a criação de uma comissão especial voltada especificamente ao levantamento de caminhos para o fortalecimento e reconhecimento da memória negra e da classe trabalhadora em Petrópolis. A audiência foi realizada no fim de novembro e reuniu estudiosos para a discussão sobre formas de pavimentar o caminho para uma educação que permita à população, já a partir da infância, conhecer as raízes africanas e todo o movimento de luta que antecedeu e ajudou a construir a Petrópolis que ficou conhecida como Cidade Imperial.

A vereadora Júlia Casamasso teve ao seu lado, durante o debate, o especialista em História do Brasil e Cultura Afro-Brasileira Lucas Ventura da Silva, que representou o Museu da Memória Negra de Petrópolis; o professor pós-graduado em história da África mestre em Ciências Sociais José Luiz Lima, que também compõe o Conselho da Promoção de Igualdade Racial; e a mestranda em Relações Étnico-Raciais pelo Cefet/RJ, Ester Guerra, que é integrante da Coletiva Feminista Popular.

“Hoje, com este debate, nosso objetivo é lutar por uma política de memória que coloque no centro da história as mulheres e a juventude negra trabalhadora, os bairros e distritos que também construiram e constroem nossa cidade. Queremos gerar dados para subsidiar políticas de cultura, educação, lazer, planejamento urbano e turismo de base comunitária capazes de gerar renda e postos de trabalho para além do centro histórico.”, afirmou a vereadora Júlia Casamasso.

Lucas Ventura, que abriu a fala dos convidados, destacou a importância da pesquisa e, principalmente, da reflexão sobre a Petrópolis que não está nos livros didáticos e que muita gente não conhece. “Precisamos sair desse lugar de conformismo e garantir que essa informação ultrapasse barreiras, chegando às escolas”, frisou.

O professor José Luiz pediu a efetiva inclusão do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira no currículo das escolas.. “Quando olhamos o documento de orientação curricular vemos que o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira está como disciplina transversal. Mas a Lei 10.639 não diz isso. Ela precisa ser trabalhada o ano inteiro, e não como disciplina transversal”, destacou, defendendo também a criação na Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis, de um departamento de educação antirracista e de um departamento de ensino religioso.

Durante a audiência foi definido que, além da criação da Comissão Especial da Memória Negra e da Classe Trabalhadora, outras propostas serão formalizadas, entre elas a criação de centros de memória e cultura nos bairros e distritos, aproveitando as estruturas das escolas municipais, e de mudança nos nomes das ruas que lembram pessoas ligadas à ditadura militar ou escravocratas. “Podemos, por meio da comissão especial, fazer este levantamento e propor a substituição, por nomes de militantes que resistiram à ditadura e por petropolitanas/os que foram vítimas da repressão do período, com enfoque em pessoas trabalhadoras, negras e mulheres ou, ainda, que haja garantia de espaço para explanação sobre quem foi essa pessoa ou quais suas contribuições para sociedade, como forma de dar visibilidade às narrativas populares e contra hegemônicas, detalhou Júlia Casamasso.

Outra proposta é reformulação e a ampliação do escopo da disciplina História, Geografia e Turismo de Petrópolis (HGPT). “Este conteúdo precisa ser urgentemente repensado”, atestou a vereadora, afirmando que vai reunir as informações colhidas na audiência para propor mudanças, seguindo os ritos legais.

Ester Guerra, que integra a Coletiva Feminista Popular e organizou o encontro, destacou a importância do debate. “Estamos aqui reunidos produzindo política pública. Estamos falando de um documento oficial elaborado a partir das nossas reflexões, a partir de tudo o que nós aprendemos e trouxemos dos nossos ancestrais, organização política estruturada pela oralidade. Este é, sem dúvida, um encontro histórico que vai gerar muitos frutos”, finalizou.